domingo, 12 de junho de 2011

Enquanto isso, na selva...

Hoje temos um texto sobre a famosa "Lei da Selva", só que aplicada aos concursos públicos. De autoria do ex-concurseiro, hoje aprovado, André! Esse texto foi escrito antes dele ser aprovado em concurso público. O mundo "concursístico" também dá voltas... Ah! E um bombom para quem acertar, qual bicho seria eu, a concurseira que vos fala! hahaha Abre aspas...

Sempre quis escrever sobre concursos, porque é algo que vivo intensamente. Lá no fundinho, por outro lado, sempre imaginei que poderia escrever assim que tivesse passado, porque aí a satisfação seria muito maior. Não é o caso. Aliás, para começar a história, deixo bem claro que nunca passei em nenhum concurso público. Nenhum. Nenhunzinho. Necas. Quem me conhece e sabe das minhas histórias acaba sempre me incentivando, falando sobre até onde cheguei, que fui alvo de algumas sacanagens, mas a verdade nua e crua é que nunca passei em nenhum concurso público. Por isso, não posso falar sobre a aprovação. Ainda; espero. Por natureza, o concurso é feito para selecionar os melhores funcionários para a Administração pública. Pára de rir! Teoricamente é isso mesmo: a seleção dos melhores. É a lei selva por natureza – se me permitem o trocadilho – com todas as conseqüências daí decorrentes. Por isso que o candidato pode ser avaliado como os bichos da selva. Aliás, “concurseiro” já parece nome de bicho-da-seda, não é não?

O Concurseiro Gnu

http://animal-pics.org
O concurseiro gnu (aquele bicho que anda em manadas na África e só serve de comida e de figurante nos documentários da National Geografic) é aquele que anda em manadas, que pasta o tempo todo e fica só de olho nos leões, nos crocodilos, nos leopardos (entenda-se os examinadores). Ele fica migrando o tempo todo, correndo de norte a sul, atravessando rios cheios de jacarés e pastagens cheinhas de leões famintos. Ou se preferir, faz concurso de porteiro do fórum de Chuí/RS a limpador de janela em São Luís/MA. Meu Deus que bicho burro! Viaja milhares de quilômetros com a simples finalidade de virar comida na boa dos outros. Não estuda o suficiente. Não estuda nada, aliás. Reclama incessantemente das trambiqueiragens nos concursos (quer existam ou não) e sempre “segue a manada”. Seu negócio é o pasto. Pronto. Está satisfeito em passar em qualquer coisa, ainda que ganhe menos do que ganha atualmente. Aliás, se guardasse o dinheiro da inscrição, certamente teria uma poupança enorme hoje. Não passa da primeira fase, porque só lê letra de lei – inclusive as revogadas – e acha o cúmulo ler outra coisa que não seja resumo. Todos os concurseiros que conheci passaram por uma fase gnu. A característica mais marcante é não ter qualquer característica marcante. Frase que identifica: “Na dúvida, marco ‘C’ que é a alternativa que mais cai. Mas e se tiver seqüência de ‘C’, marco ‘B’, porque a ‘A’ tá muito na cara.”

O Concurseiro Zebra


O concurseiro zebra é um pouco diferente. Já passou da fase gnu e agora resolveu estudar. Pena que resolve estudar de qualquer jeito, sem matéria, sem esquema, sem tática, sem nada. Estuda lendo a Veja, na sessão de cinema. Lembra notalgicamente os tempos da faculdade e, lá pelas tantas, vai buscar o caderno amarelado que guardou. Estuda com afinco aquela lei revogada que o professor da faculdade explicou tão bem. É menos “comido” que os gnus, mas ainda assim é farta refeição. Se destaca dos GNUS pela aparência. E é quase só, porque seus acertos não vêm necessariamente do estudo, mas sim das táticas para chutar, que aprimorou bem mais do que os gnus. Estuda a lei seca e começa a pegar doutrina, especialmente sobre princípios e artigos iniciais dos códigos e da lei. Após ler por duas semanas sobre o princípio da legalidade no direito Penal e a história das constituições, olha para o calendário e vê que não tem mais tempo. Corre para os resumos. Interessante é que não fica mais reclamando de tudo e de todos. Sabe que há problemas em vários concursos, mas está mais focado em si mesmo. Característica mais marcante: a roupa, que os difere dos gnus. O gnu é aquele que vai de calça jeans e camisa social. A Zebra vai de terno. Frase: “Tô indo bem.. [confere o gabarito]…pô, só caiu coisa que eu não vi!

O Concurseiro Unicórnio ou Araponga 


É chato e vive procurando chifre em cabeça de cavalo. Sabe todas as exceções da exceção daquela hipótese especial. Só não sabe o básico. Para ele, as bancas são sempre retrógradas, sempre desatualizadas e sempre equivocadas (não que elas não sejam, mas ele generaliza). A teoria dele é que vale, ainda que só ele tenha conhecimento dela. Antítese dos demais em relação ao estudo: só lê teorias filosóficas e metafísicas mas esquece da lei. Vive reclamando, o tempo todo, e essa é sua característica marcante. Se decepciona porque ao se comprar com o GNU, às vezes vê acerta menos questões. Frase: “É um absurdo esse entendimento. Tá tudo errado“. É pessimista ao extremo. 

O Concurseiro Elefante


São ótimos em vários tipos de concurso e, por coincidência, a maioria é de mulheres. Tem uma ótima memória. Sabe tudo de cor e vivem com aquelas frases mnemônicas ridículas do tipo “Elaborei Um Estudo Sobre aTitudes de Um paDre que vOava” (eu estudo). Se houvesse concurso para o céu, decoravam a Bíblia. Nunca vi. Mas isso é uma forte “arma” nos concursos e, por isso, já não integram a cadeia alimentar da selva de maneira tão comum. Mas se a pergunta sai do esquema, vira prato de leão. Não perde tempo pensando sobre o concurso: se passou, passou; senão, decora mais coisas. Tem tendência a fazer “colas”, principalmente se não deu tempo de decorar. Não reclama da banca. Sua característica marcante? Preciso dizer? Frase: “Comprei um código, uso marca-texto, meu pai disse: mamãe precisa estudar o Trigo“.

O Concurseiro Tigre de Bengala Albino

www.saudeanimal.com.br

Raríssimo. Tem o toque de midas: toda prova que põe a mão sai a sua aprovação. Ingressou na faculdade com 15 anos depois de ter elaborado uma liminar sozinho para poder cursar o curso. Bate boca com Stephen Hawking e sai bravo. É bem sucedido em qualquer método de estudo. Lê 550 páginas por dia e para descansar joga xadrez contra o computador (e ganha!). A única vez que erra é quando acha que está errado. Tem sorte (além de tudo) e quando chuta alguma questão ela é anulada. Como característica, aposto que você está pensando que eu descreveria um Nerd. É redundância. A característica é que você nunca dá nada por ele, mas sabe quem é. É sempre aquele sujeito sozinho, num canto que você sabe quem é. É coisa de instinto. Lei da Selva. Frase: “Não vou tomar posse agora, tô de olho no próximo“.
 
O Concurseiro Castor
 

É persistente. Passou por várias das fases anteriores. Vai aos poucos construindo sua “represa” que, volta e meia desmorona. Não é regularmente devorado, mas de vez em quando é pego de surpresa e se f.. dana. Vai acumulando experiência e, se não desanima e vira ARAPONGA, tem chances de passar. Aliás, acaba passando em algo. Não consegue estudar tudo e morre de dúvidas. Não é valente como o TIGRE, mas tem lá seus colhões. Reclama de vez em quando, mas também sente sua responsabilidade. Não conta com a sorte, mas ela é muito bem vinda. Característica: nem ele se reconhece. Não consegue se distinguir até vir a lista da segunda fase. Frase: “A fila anda”.

E os examinadores?

Os examinadores estão no topo da cadeia alimentar e sabem disso. Estão enjoando dos gnus, sua principal refeição e começam a querer experimentar outras carnes. Há o examinador Naja, que te pica durante a prova e só faz efeito 24 horas depois (quando vem o gabarito). O examinador Leão, insensível, indelicado e brutamontes, faz você se sentir um lixo, um pedaço de bife. Já te olha com cara de quem vai te comer (entendam do jeito que quiser!). Há o examinador Crocodilo, que apesar de ser o mesmo há milhões de anos e não ter evoluído, é uma eficiente máquina de matar. Tem o examinador  Morcego que faz uma prova que te deixa anêmico e o examinador  Ornitorrinco. Esse é um bicho estranho, que você não sabe classificar e que parece inofensivo e geralmente o é. Vem da Austrália (ou qualquer outro país com pós-doutorado) e tem um ferrão que, quando usado, gera uma dor terrível e irremediável, que só cessa com o bloqueio do nervo. E eles não fazem isso pra comer, diga-se de passagem.

E no final das contas...

O concurso é uma seleção. Uma árdua seleção pela qual nós, concurseiros, temos obrigatoriamente que passar. Nem sempre é nossa vez. Quase nunca estamos preparados ou nos sentimos assim. Passamos por percalços e às vezes, nossas derrotas devem ser imputadas a mais ninguém, senão a nós mesmos. Essa é a regra. Também não é benéfico se martirizar pela injustiça sofrida, se esta não será revertida. As injustiças existem e, infelizmente, às vezes somos parte delas. E brincadeiras à parte, embora efetivamente seja um hábito reclamar dos examinadores, por outro lado é regra que saibamos previamente quem nos espreita nessa selva. A nós cabe traçar estratégias para escaparmos do golpe fatal da nota de corte para depois desfrutar tranqüilamente dos pastos verdejantes da aprovação. Tomemos, pois, as rédeas de nossos sonhos e, tendo-as nas mãos, forcemos nossa aprovação no momento em que estivermos preparados. Pode ser agora, pode ser depois, pode ser nunca. Pode ser que esta não seja tua vocação. Vamos refletir a repeito e vamos manter nossa saúde mental, essencial à aprovação. Stress, tristeza, decepção e ansiedade têm sido inimigos inevitáveis e prejudiciais ao desempenho. Vamos evitá-los, na medida do possível. Levante a cabeça e lute. Eu estarei em busca do meu ideal. Um abraço!

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